Sessão pra essa tarde

Ouça enquanto lê

Ta chovendo lá fora. Ta chovendo pra caramba. Ta frio aqui. Preciso de um filme nessa droga de tarde chuvosa. Um filme com um cenário de cidade pequena. Que mostre como tudo é tão solitário. 

Preciso de um que se pareça com a realidade. Com a minha realidade. A protagonista tem que ser quase eu. Ela pode ter uma risada meio exagerada, e ser um pouco abaixo do peso. E no guarda-roupa, coisas que está cansada de ver. Nossa, cansada! E que ela fique parada na frente de uma estante cheia de livros que ela já leu querendo revivê-los. Aqueles cheios de clichês de amor. Cheio de mundos que ela gostaria de conhecer.

Ela não tem um celular decente. O que ela tem só toca estações da rádio local. E mesmo assim, ela nem tem chances de ouvir às duas horas de músicas internacionais nos finais de semana (com aquele locutor que acha que sabe falar inglês) porque um menino da sala dela quebrou seu par de fones. Mas ela tem um bilhão de CDs que gravou suas músicas favoritas, então coloca um pra tocar enquanto arruma a cozinha.

Ela gosta de seriados. Gosta de ler romances. Gosta de música e gosta de fotografia. Ela gosta (muito) de chuva. Não gosta muito do frio, mas adora dias nublados. Ela gosta de cumprimentar pessoas nas ruas. Não gosta de gente mal educada. Odeia chá, mas gosta de Londres. Ela tem uma melhor amiga que mora longe. Elas se parecem muito. Não falo de aparência. Elas são meio solitárias, acho. É. Foi assim que começou, quando juntaram as duas solidões... Solidão, tem bastante nesse filme que eu preciso... Essa melhor amiga sabe de quase tudo sobre ela. Deve saber.

Ela (essa personagem que é quase eu, mas não é eu) não é popular. Nunca foi, nunca vai ser. Na verdade, ela é meio solitária. Meio estranha. Fala demais, mas não costuma chamar atenção.

Ela não tem um estilo fixo. Veste as mesmas coisas que eu: calça Jean, uma camiseta e um casaquinho por cima. Ela também gosta de All Stars, mas os que tem já estão pequenos pra ela (mesmo ela tendo certeza de ainda calçar 36).

Se importa muito com o futuro. Mas tenta viver pra hoje. Ela também tem um rolo. Um rolo, não. Um “caso”. (Ok, também não é um "caso". Não sei como chamar...) Com uma pessoa em quem ela pensa às vezes. Tudo bem. O tempo todo. Mas isso é papo pra outro filme.

Ela é bem calma (se não tiver acabado de acordar). Não é ciumenta. Tenta agradar as pessoas (nem sempre dá certo). Ama muito os pais. Tem duas irmãs caçulas  que não se dão muito bem. Alguns colegas de escola com quem ela mantém contato...

Ela não é triste. Nem feliz. Ela é nostálgica, e às vezes meio quieta. Não gosta de chorar. Ainda mais se for em público.  Mas isso não acontece com frequência.

Ela se sente agradecida com sua vida. Mas pede mais. E acho que ela está certa. Então, é isso. Essa é a personagem que é quase eu, a personagem do filme que eu preciso pra essa tarde. Se você conhece algum filme parecido, senta aqui e vira meu amigo. Vem juntar sua solidão com a minha, e assistir esse filme. Afinal, ta chovendo lá fora, e tá muito frio aqui.