Saudade, álcool e música ruim

Ouça enquanto lê

Dez da noite. Coloquei meu vestido novo e meu batom rosa preferido. Meu delineador preto e meu rímel. Do jeitinho mais clássico que consigo. Olhei no espelho. E aquela no reflexo era eu --mesmo que não parecesse muito. Mesmo que aquele seu salto estivesse saindo um pouco do pé. Ela queria se divertir naquela noite.

 Encarou garotas metidas. Ficou de fora de conversas e, em outras, o assunto era ela! Ouviu músicas que não gosta. As cantou (afinal, todo mundo sabe de cór as músicas que odeia!)! Ofereceram bebida. Aceitou! Um copo. Arde! Dois copos. Bom! Três copos. Quatro... E cinco... Ela sentia falta dele... A saudade a mantinha desperta, mais do que a música alta ou a bebida. Sua posição de espectador, vendo quem estava pegando quem, distraia ela. Mas, mesmo assim, o pensamento continuava à espreita em algum lugar. “E cadê você?” ela se perguntava. Com certeza estava com seus amigos. E ela ali, se perdendo na própria insanidade.

A quem eu estava querendo enganar?  Eu me sentia uma grande impostora. Porque deixei toda a minha vida para trás e ninguém sabe disso. Era difícil sentar numa cadeira por que as coisas não paravam de rodar. Mesmo assim eu continuava tentando esquecer a saudade e a nostalgia. Então eu peguei outro copo. E depois outro. Até que eu fosse embora. Depois eu estava feliz... Quando cheguei em casa, fiquei olhando pro céu e me perguntando se ele ainda pensava em mim como eu penso nele. “Isso é tão infantil... patético. Pare com isso pare com isso.” Mas eu não sabia ao certo o que era ‘isso’, então dormi.