terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Amplexo


Abraços distantes, entre corpos que evitam o encostar um no outro, não são exatamente abraços, estão mais para tateadas do terreno alheio ou recolhimento do próprio. Um abraço apertado é coisa diferente. Começa pelo encostar de duas batidas cardíacas, esse lugar onde mora de um lado o amor incondicional, do outro o mais puro egoísmo. Depende de como cuidamos dele.
Imagine agora que esse abraço, que já fez corações se tocarem, se aprofunde mais, e permita que um outro centro de energia entre em contato com o seu abraçante. Ali, atrás do estômago e abaixo do diafragma, eis que se tocam dois sóis internos - dois plexos solares. Ali, nesse lugar, é onde as emoções se digerem, onde se transformam medo em aceitação, ódio em amor, raiva em compaixão. No abraço, a digestão é compartilhada, e torna-se mais leve.

Não sei o quanto conseguimos perceber essa troca de energias tão sutil. Creio que muito, muito pouco. Em parte porque não nos permitimos abraços tão íntimos, em parte porque andamos desatentos, com pouca disponibilidade para olhar o que provocamos no outro e o que o outro provoca em nós. E, sem olhar, como ver? Não vemos.

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