Não é pra jogar fora

Ouça enquanto lê

Já percebeu que as pessoas acham mais fácil querer terminar do que começar alguma coisa? Se começar a te incomodar, já tá na hora, a gente termina aqui! Se tem um vírus no computador, corre, liga pro técnico pra ele resolver logo isso. Se tem um cálculo difícil na sua prova de matemática, estica o pescoço e dá uma olhadinha na prova do lado. Vamos logo, vamos acabar com isso, nos livrar de qualquer cara feia, implicâncias e momentos difíceis.

Geralmente é assim com todo mundo. Mas não comigo. Nunca gostei de terminar as coisas. Nem livros, nem filmes, nem seriados, muito menos relacionamentos. Fico com dó, pena, medo. Uma melancolia doce, um nó na garganta, uma vontade de abraçar! Sou apegada ao que é meu. Tipo, muito apegada. Sério. Apegada ao que lembro, ao que guardei na minha memória. Gosto de manter o que é vivo perto. E lembranças são vivas, apesar de serem lembranças. São vivas pra mim pelo menos.

Se eu te amo e você me incomoda, vou te incomodar também. Mas como sei que isso não vai levar a lugar nenhum, vou conversar com você e tentar resolver isso, certo? Vou te explicar explicadinho tudo o que me aborrece. Se quiser até desenho. Mesmo que a minha vontade seja desligar o telefone na sua cara, fechar a porta e sair andando, eu não vou fazer isso. Afinal, eu sempre falo que te amo no final da ligação. E isso é verdade.

Tudo hoje é muito supérfluo.  As relações duram bem menos que o intervalo da novela. Isso me deixa indignada às vezes. Falta vontade, falta sinceridade, falta amor. Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados…Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa. Tudo bem que não existe nenhuma notificação te informando que essa pessoa é a certa. Talvez algum dia inventem algum aplicativo, sei lá. Não faz diferença. O que importa pra mim é que eu não acho que as coisas devem ser substituíveis. Não sei substituir minha vida, minhas histórias, meus amores. As coisas são raras. E caras. Aproveito tudo até o último gole, até o último pedaço, até a última gota. E acho que é assim que a gente deve viver: curtindo tudo ao máximo. E se estragar a gente remenda. Renova, restaura, mas jogar fora não!