Morrer é clichê

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Uma vez li que morrer é uma coisa muito ridícula. Sim, porque, e os planos de sair com aquele cara na sexta-feira à noite? Como é que fica? E aquele vestido que você ia usar no casamento da sua filha, que mal acabou de pagar? Você tem planos de viajar com seus filhos nas férias, que você custou pra ganhar. Vai viajar pela primeira vez de avião. Já até arrumou as malas e reservou as vagas no hotel. Mas, numa tarde de quarta-feira, bem deitado no seu sofá, você sente uma pontada no peito e morre. Assim. Sem alarde, sem despedida. Sem choro nem vela.

Morrer é um pouco clichê, não acha? Torna tudo mais trágico, mais dramático. Morrer é apelação. Você passa momentos com a pessoa, aprende a amá-la e respeita-la. Então aparece um tumor em seu pulmão e ela é obrigada a fazer uma cirurgia. Os médicos confirmam que está tudo bem com ela, então dormimos bem. No outro dia, ela acorda com dificuldades em respirar então dão pra ela um tubo de oxigênio pra ela carregar pra lá e pra cá. Você vê a pessoa que você ama sofrer e deseja um pouco daquela dor pra si pra ajudá-la. Mas isso não existe. Ela tem uma recaída e é internada. Então, no meio da noite, você tem que ligar pros familiares dando a notícia que ninguém quer ouvir. Aquela dor dela ficou com a gente agora. Isso existe. E dói muito.

A gente nasce, cresce e morre. E morre. Esse é o fim da festa. Não espera a hora de partir o bolo e nem quer saber se a sua música favorita já tocou. A vida é injusta até quando ela não tá mais lá.

Não sei. Só acho isso tudo muito exagerado. Desnecessário. Talvez, pra entender isso tudo, a gente precisa amadurecer. Talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável. E que não precisamos nos agarrar a dor para justificar nossa existência.