Meu amor de ferro

Ouça enquanto lê

         Nunca gostei de despedidas. Desde as mais simples até as mais dolorosas. Mas sempre tive loucura por ferrovias. Aquele monte de gente entrando e saindo. Despedidas. Reencontros.

Fico observando as pessoas. Pessoas que eu provavelmente nunca mais vou ver. Pessoas compartilhando seus momentos mais íntimos. Os últimos abraços. Os últimos beijos. Os últimos olhares. As muitas lágrimas que voltarão a aparecer em momentos de saudade. Meio sorrisos. O triste gosto do adeus.

Acho que nesses lugares há uma coisa de muito especial. É não querer ir nem ficar. As ferrovias nos tornam mais humanos. Fazem aflorar nossas emoções mais profundas. Aquela do momento. Ou talvez seja só medo de perder alguém que se ama por alguns quilômetros. Milhas. Oceanos. Ou pra sempre, nunca se sabe.

E, porque quando eu chego, com aquela cara amaçada de quem dormiu a viagem inteira, te reencontro. Imagino que vou jogar as malas no chão e correr até onde você estiver. E começaremos uma cena quase pornô ali, naquele lugar público. Mas, como isso seria muito feio, não chegamos a tanto. Só que acho que ninguém ligaria. Porque, nesses lugares, nós somos humanos. De uma forma que em nenhum outro lugar somos. A gente recupera nossas essências. Recuperamos aquilo, ou melhor, aqueles que amamos. Ou perdemos, nunca se sabe.

Mesmo com toda expectativa, mesmo com a incerteza, eu amo isso. Porque esses lugares me devolvem você. E você, bom, você eu amo mais que ferrovias.