Cinema Americano

Ouça enquanto lê

Depois de acertos nas falas, alguns erros na filmagem e várias tomadas de uma mesma cena, o diretor a mandou mudar de cenário mais uma vez.

Fazer aquilo era burrice! Ela tinha chegado à melhor parte do filme. Sem contar na demora que foi pra conseguir uma cena tão bonita de se ver. Era a parte em que o jogador de futebol finalmente beija a nerd da sala de química. E sua melhor amiga rockeira faz uma tempestade em copo d’água. E as líderes de torcida morrem de inveja. Típico de um cinema americano.

Mandá-la para o outro lado do estádio não estava no roteiro previsto. Na verdade, deveriam ser proibidas mudanças drásticas com dez e mais poucos anos. Uma personagem tão boa como aquela teria que competir com outras milhares na nova arquibancada. Não teria chance.

Então ela mudou. Pegou as trouxas e mudou. De cenário e de personagem. Teve a chance de ser alguém diferente. De se recriar. Escolheu um novo papel e deixou o jogador de futebol no banco de reservas. Riu, sambou, bebeu, caiu, cantou... Atuou como nunca! Esqueceu-se da nerd. Da rockeira. Conheceu outros jogadores. Ficou amiga das líderes de torcida. Nem parecia ela. Nem era ela.

E num dia qualquer, recebeu uma carta. Nem se preocupou em saber quem escreveu... Era sobre uma garota que fingiu não saber sobre a saudade e sobre o arrependimento, que disse ter sido impossível depois que recebeu a novidade sobre e mudança.

Possivelmente, o impossível deva ser uma idealização para que os olhos se fechassem e a boca se calasse diante do incerto e do imprevisto. E chorou quando viu que a carta tinha sido escrita por ela, sobre ela mesma.