Uma Wendy dentro de mim

"Mas, mãe, eu não quero crescer."

Ela tomou seu banho e se arrumou. Saiu pra rua. Alguns olhares de garotos... Uma ou outra pessoa conhecida... Fugia de umas, abraçava outras. Voltas na praça, descia e subia...  Via algumas crianças chorando pra ficarem mais um pouco no pula-pula. E pensou que todas aquelas crianças irão crescer um dia. Que todas irão ser adolescentes como ela e irão fazer coisas como ela. Irão beijar alguém, irão se apaixonar por alguém, chorar por alguém... Mas agora, pular mais um pouquinho na cama elástica é o suficiente. Na verdade, já aborrece bastante os pais. Mas acho que seria ótimo se bastasse o pula-pula, mas não é assim.

 Decidiu voltar pra casa, porque tinha muita gente na rua. E muita gente vazia.

Quando chegou, ficou com preguiça de tirar a maquiagem e trocar de roupa. Então deitou do mesmo jeito. Ficou deitada na cama olhando para o teto e sorriu, porque o silêncio era muito legal. 

Sentiu saudade da infância. Pensou em frases clichês, do tipo: “eu era feliz e não sabia”. Riu da própria frase... Lembrou daquele garoto que se recusa a crescer e quando a Wendy cresce, ele se sente traído. E começou a pensar. Pensar demais. Começou a repetir as mesmas lembranças. E ficou triste. Era uma espécie de tristeza esperançosa. Uma tristeza que passa com o tempo. Ela espera que Peter a perdoe por ter crescido. Realmente espera.

No rádio: The Call